FABRIKA FILMES

 

Arquitetura do convívio

O projeto da nova sede da produtora Fabrika Filmes surge a partir de um desafio central: criar um prédio conciso e flexível, adaptado às necessidades de uma produtora de vídeos e suas empresas parceiras. Nesse contexto, uma análise cuidadosa da sede anterior da empresa foi crucial para o desenvolvimento de um programa de necessidades que comportasse a transferência da sede e sua futura expansão. Assim, não foram apenas consideradas as funções e distribuição dos núcleos, mas também a forma dinâmica de trabalhar e a forte interação social existente na produtora. O novo prédio procurou atender à mobilidade de uma empresa em constante transformação em que se destaca a intensa convivência nos espaços comuns, a partir de uma hierarquia de núcleos bem definidos.

 

O prédio é localizado no novo trecho 17 do SIA (Setor de Indústrias e Abastecimento de Brasília), o que impôs um desafio. Se por um lado costuma-se a encarar o contexto urbano como elemento de diálogo e motivação para as primeiras decisões arquitetônicas, o que dizer de um terreno em que o contexto urbano ainda não existe? A região foi criada a partir de um programa de incentivo do governo distrital, onde o urbanismo foi executado concomitantemente  à construção da maioria dos prédios. Com isso, o contexto inicial do lote levou em consideração apenas os poucos elementos existentes: a orientação, os ventos dominantes e a presença distante da via Estrutural, uma das principais vias expressas da cidade.

 

O terreno é constituído de 2 lotes idênticos de 20 x 40m, dispostos lado a lado. Por solicitação do cliente, um dos lotes deveria ser usado para estacionamento e o outro para a edificação. Desse modo a empresa teria a possibilidade de uma futura expansão. Escolhido o lote a construir, partiu-se para o zoneamento dos principais volumes e funções da produtora, quais sejam:

 

  • Estúdio de filmagens - volume hermeticamente fechado por questões de acústica e iluminação, apresenta área aproximada de 150m² e pé direito duplo.
  • Funções anexas ao estúdio – Camarins, sala de casting, depósitos técnico, depósito de produção, central de iluminação.
  • Núcleo de edição – contendo as salas de edição e pós produção, assim como o acervo técnico.
  • Núcleo dos funcionários – área de convivência dos funcionários, com copa, estar e vestiários.
  • Áreas de escritórios – Representa os núcleos de produção, comercial, financeiro, redação, e direção da empresa. É a área com maior mobilidade da empresa, podendo dobrar de tamanho conforme o tipo de trabalho em que se esteja atuando. Por isso, a previsão é que ocupasse cerca de 500m² da área total, ou seja, 2 pavimentos.
  • Áreas comuns – A serem espalhadas ao longo do prédio, possuem a função de integrar os diferentes núcleos em torno de espaços de uso coletivo, incentivando a dinâmica característica da produtora. Dentre essas aéreas, uma exigência do programa foi a colocação de um restaurante com capacidade para até 40 pessoas próximo às áreas comuns do térreo, facilitando assim o acesso em dias de evento.

 

Primeiramente, optou-se por posicionar o estúdio no fundo do lote, aproveitando ao máximo os recuos obrigatórios permitidos e deixando uma faixa lateral de 3,8m para a circulação de veículos de carga. Observou-se que as áreas adjacentes ao estúdio, juntamente com os núcleos de edição e dos funcionários deveriam estar próximas ao estúdio, o que representaria um entrave às áreas comuns do térreo. Com isso em vista, foi tomada a decisão de utilizar o subsolo, onde a legislação permite a ocupação máxima. Assim, o estúdio fica semienterrado, com seus acessos pelo pavimento inferior. Em torno do estúdio colocam-se suas áreas anexas e o núcleo dos funcionários. Na porção frontal do subsolo, fica o núcleo de edição, situação oportuna uma vez que essa área requer um maior controle da iluminação e ventilação naturais devido a questões técnicas – calibragem de cores e bloqueio de ruído.

 

Com a construção de cerca de 80% da área do subsolo, a preocupação com as necessidades de ventilação e iluminação natural teve que ser reforçada. Dessa forma, foram dispostas sempre que possível, saídas de ar quente e entradas de luz, como a que existe sob o banco do térreo, estrategicamente colocado para reforçar o convívio na área externa e ao mesmo tempo garantir um subsolo arejado e naturalmente iluminado. Mesmo nas áreas com restrições de iluminação, pareceu necessária a realização de um largo recorte no terreno que permitisse aos usuários do subsolo um contato direto com ambiente externo.

 

A partir do posicionamento do estúdio, decidiu-se por deslocar a circulação vertical de seu local mais óbvio, à frente do lote, para a área central, ao lado do estúdio. Essa opção divide os pavimentos superiores – onde ficam as áreas de escritórios – em duas partes, contribuindo para uma satisfatória estratificação da edificação, que passa a ter mais flexibilidade e melhor rentabilidade do espaço.  Com isso se faz possível uma série de variações de layout nos pavimentos destinados ao aluguel e à parceria com empresas e autônomos de interesse mútuo. Além disso, a opção por um espaço central de distribuição integralmente vazado de baixo até em cima proporciona maior conexão visual entre as diversas áreas do prédio e possibilita uma quantidade maior de encontros, reforçando o caráter social da empresa.

um átrio de luz

 

O átrio resultante desse vão central constitui o principal espaço de exceção da Fabrika. O átrio é o núcleo, a origem de todo o trânsito de pessoas. Seu pé direito é completo, integra as passarelas suspensas com a circulação vertical, cria um vínculo visual permanente entre as funções sociais e restritas e intersecciona a modulação contínua da estrutura metálica. Ali se percebe a movimentação ao longo dos dois pavimentos de escritórios e o térreo, característica reforçada pela intensa presença do vidro, tanto nas fachadas leste e oeste como no teto e nos fechamentos do elevador, das escadas e das passarelas de conexão entre os dois lados do prédio.

 

Para reforçar o dinamismo desse espaço utilizou-se de um recurso plástico pouco usual. Sendo o piso do átrio um quadrado perfeito, formado por 16 placas cimentícias de 120 x 120cm e a cobertura formada por uma pele de vidro, espelhando a modulação do piso, as passarelas que conectam os dois lados do prédio representam uma ruptura nessa regularidade. Pode-se imaginar um cubo torcido, como uma espinha dorsal, criando vazios ireegulares a partir de recortes nas passarelas. Esse efeito é reforçado pela paginação de madeira tangenciada por rasgos de luz, tanto nos forros quanto nos pisos das passagens.

 

O percurso de acesso de pedestres foi resolvido desde a entrada frontal do lote até o átrio central, no pavimento térreo. A solução foi estender uma marquise negra em direção à frente do lote, um prolongamento da estrutura de concreto do estúdio. Esta proposta propicia uma cobertura adequada ao acesso do pedestre ao longo do caminho. Esse gesto é simbólico: o estúdio estende um braço em direção à cidade e, assim, convida os visitantes a acessar o edifício.

 

Os pavimentos de escritórios (1º e 2º) possuem as características de flexibilidade requeridas pelo programa. Para tanto, foi criada uma coluna de áreas comuns – banheiros, DML e copa – voltada para o átrio central, liberando o vão principal para conter apenas áreas de trabalho. Nelas, o vão livre tornou-se possível a partir do uso da estrutura metálica, que vence um vão transversal de 10,8 metros e também do emprego de piso elevado, tornando possíveis rápidas mudanças de layout. O uso de shafts exclusivos para instalações lógicas e elétricas foi fundamental, uma vez que se pode facilmente recabear o edifício inteiro conforme a necessidade.

 

Outra vantagem da forma obtida nos escritórios é a grande abundância de luz natural aliada à ventilação cruzada, dispensando em grande parte das vezes o uso de recursos artificiais de iluminação e ventilação. Fechando a composição dos pavimentos de escritórios, há as varandas, generosos espaços de convivência para os escritórios, conectados à copa e às passarelas do átrio central. Essa estrutura auxiliar, formada por um balanço de 1,8m da estrutura metálica, conecta o prédio longitudinalmente ao longo da fachada leste, protegida por chapas metálicas perfuradas.

Ficha Técnica

Fabrika Filmes

 

Endereço

SIA trecho 17, rua 40, lotes 125/145

Brasília-DF

 

Autores

Gabriel Nogueira

Guilherme Araujo

Pedro Grilo

 

Ano

Projeto - 2008/09

Construção - 2009/2011

 

Áreas

Terreno - 1600m² 

Construção - 1700m²

 

Fotos

Joana França

Aníbal Fontoura

 

Colaboradores

Eng. orçamentista - Paulo Resende
Projeto concreto - ProEst
Projeto aço - Medabil
Projeto instalações - Projet
Projeto acústico - Luís Cysne
Luminotécnico - TC iluminação / Dessine / CoDA
Paisagismo - Quinta
Consultoria - Alberto Uno
Compatibilização - CoDA Arquitetos

 

Equipe

Almira Portella
Brunno de Sá
Cristiana Scorza
Daniel Brito
Thiago Turchi